sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Que essa garrafa chegue em alguém, numa praia bem distante, mas irmã-de-mar da minha. Que uma maré suave leve essa mensagem direto para as mãos de quem mais precisa dela. 

Faz dois anos que estou preso em uma ilha deserta. Não consigo comer muita coisa, as chuvas que vem do mar aberto são selvagens e revoltas. Choro de saudade dos meus amores e familiares. 
Quais as coordenadas? Não amigo, aí é que está. Se você está lendo isso, não venha me buscar. Fuja você para uma ilha deserta. Não há vida melhor. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Onde está o vinho novo, prometido às novas gerações? Escorreu pelo chão, alimentando só a sede do solo, cada vez mais arenoso.

Tigre! Tigre! Brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,
Que olho ou mão armaria
Tua feroz simetria?

Em que céu se foi forjar
O fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chama?
Que mão colheu esta flama?

Que força fez retorcer
Em nervos todo o teu ser?
E o som do teu coração
De aço, que cor, que ação?

Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo? Que fornalha
O moldou? Que mão, que garra
Seu terror mortal amarra?

Quando as lanças das estrelas
Cortaram os céus, ao vê-las,
Quem as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?

Tigre! Tigre! Brilho, brasa
Que a furna noturna abrasa,
Que olho ou mão armaria
Tua feroz simetria?

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

sob o impenitente escorrer dos dias, o homem deve ser autêntico em suas mínimas ações. Acomodar-se, dizer "não é problema meu" é trair os próprios ideais e chafurdar nas comodidades da vida moderna, abandonando o que nos sobrou de humanidade. diga que nunca sentiu-se sujo ao ignorar um pedido de ajuda e suma deste espaço.

alienar-se é uma armadilha atraente e suntuosa, posto que, sintonizados a mil comunicações, só podemos nos cansar. Atados à realidade por uma colcha de retalhos cerzida pelos fios da informação, podemos muito bem nos ocupar do que é imediato. Podemos abdicar do trabalhoso envolvimento. mal dá tempo de ver todos os amigos, não é mesmo?

Batizo este post de "o manifesto suspensório". Chega de calças arriadas e orações por finas picas em nossas rabas. Chega de pasteurizar. A técnica é o presente e o passado. Chega a hora de escolher os instrumentos do futuro. Pense, se for de pensar. Aja, se for de agir. Mas pense, se for de agir. Aja, quando cansar-se de pensar.

Oculte-se de seus fracassos e será mais leve. Ame o que já é seu e dormirá tranquilo. Impeça a consciência de se auto-analisar. Tudo falhará, em breves momentos. E estes míseros minutos virão com o peso dos anos. Neste momento, nu e sem suas ferramentas, estará irremediavelmente sozinho, auto-suficiente, em branco.

Escreva algo que preste, dessa vez.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Frase eterna e sempre atualizável: mais uma faca nas costas e terei um faqueiro completo (Dhamer, André)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Você não sabe até onde eu chegaria...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Tava escrevendo isso nos murais dos candidatos e suas novas picuinhas sobre quem o Bruno apoiou ou não nas últimas eleições, de quem é o ataque mais sórdido etc, mas fica aqui a única (prometo) consideração que faço sobre essa eleição:

Esquerda e direita querendo proteger o $eu e esquecendo de pensar em JF. Mais uma vez, essa eleição vai ser à toa. Sem perspectivas de anulações, estamos obrigados a escolher um desses candidatos ridículos que estão queimando dinheiro e fazendo promessas que, em sua maioria, não podem ser cumpridas em quatro anos. Despreparados para fazer o melhor pra cidade. Os que não foram prefeitos mal sabem gerir as próprias carreiras, cercados por assessores e jornalistas (correligionários! quanto essa palavra revela...) que só enxergam a briga, e não os objetivos. Já o que foi prefeito deu quatro anos de atestado (4 não, 8!) de que não tá nem aí pra cidade. Ninguém aposta em diálogo, porque o diálogo pressupõe divergência e isso descompacta a máquina. Até quem diz estar atento à população já se mostrou ser administrador centralizador e muito mal assessorado. Conversinha de quem não tem um plano de governo decente.

Chega dessa máquina onde cada candidato tem seus preferidos pra cada cargo de chefia, essa lambida de beiços que muita gente inteligente dá em nome da promessa velada de favorecimento pessoal com a vitória do seu partido. Ponham a mão na consciência e parem de fazer propaganda desses putos. Vocês estão vendendo seus votos, bem como o ignorante da periferia que vocês usam como exemplo de voto de cabresto, só que o preço de vocês é bem maior, né?

O dinheirinho, empreguinho, favorecimentozinho que entram não compensam quando você pensa nas altas absurdas da violência nos bairros, nas filas intermináveis dos hospitais e carros e nos mandados judiciais que já viraram parte da burocracia pra ter acesso a direitos. Coloquem essa porra dessa paixão partidária em ações pela cidade, cuzões. Participem da merda da gestão que ganhar esse joguinho viciado, mesmo que não seja a sua camarilha. Vocês já sabem como é, porque não vão lá contribuir?

Vocês devem muito mais aos seus ideais de juventude do que ao padeiro, meus caros. Não se vendam assim.

domingo, 28 de novembro de 2010

Quando deus fez o homem,
Quis fazer um vagulino que nunca tinha fome
E que tinha no destino,
Nunca pegar no batente e viver forgadamente.
O homem era feliz enquanto deus assim quis.
Mas depois pegou adão, tirou uma costela e fez a mulher.
Deis di intão, o homem trabalha prela.
Mai daí, o homem reza todo dia uma oração.
Se quiser tirar de mim arguma coisa de bão,
Que me tire o trabaio. a muié não!.

Adoniran Barbosa em "Conselho de Mulher"

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Salmo 23 do Livro de Homero
ou Apócrifo

peço perdão por magoar aqueles que em mim confiaram
mesmo que eles também tenham cometido o mesmo pecado.
me ajoelho, contrito. sobre essas palavras.
sob elas.

rogo para aprender a reconhecer o esforço como ferramenta
e medito pra aguentar aquilo que não pode mais mudar em mim
com as mãos pequenas que me concederam, acumulo lucros de guerra
e me lembro que medalhas são apenas epitáfios dourados.


peço proteção contra aquilo que não me fará forte.
carrego na bagagem tudo aquilo que não posso viver sem:
minha escova de dente, a certeza da solidão
e a capacidade ainda adormecida de não dizer apenas
amém.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

apanhando dos novos modelos da google.

estamos há 02 dias sem acidentes. Nosso recorde é de 02 dias.
Catorze obrigações por hora,
entradas, juros, esterelizando o tempo.
Se ninguém disser o que em mim, cala
paciência, paro tudo.
E invento.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A senhora arquejava, trôpega, pela subida. Até o próximo cruzamento ainda iam uns dez minutos de caminhada íngreme. Os olhos estavam vazios, espessos.
Caminhava, sendo balançada por uma multidão de dúvidas, dançando e fazendo gatimonhas sob seus pés.
O suor colava o lenço à cabeleira grisalha, que mudava de tom à medida que as brechas entre as casas permitiam um ponto de fuga para o sol alaranjado. Até ele parecia satisfeito, funcionário, batendo seu cartão de ponto depois de um dia banal de trabalho.
Ao se aproximar, percebi que falava sozinha, com fúria, tentando repelir alguma coisa que amarrava seus movimentos. Penteado e satisfeito comigo mesmo, todo engomadinho como um bom filho da puta, vi ela me perceber. O foco voltou aos seus olhos meio segundo antes de seus gritos.

"NÃO ME OLHA! NÃO DIZ NADA QUE PEGARAM MEU MENINO E AGORA EU JÁ ESTOU MORTA! NÃO ADIANTA FALAR COM MORTA!
"

E a legião de demônios que a consumia voltou a fazê-la dançar, correndo pelos morros, amaldiçoando fantasmas que só pra ela estavam visíveis.
Louca de pensar, aquela senhora me pareceu ser outra. Me pareceu ser qualquer um de nós. Loucos todos, em penitência infernal po
r permitirmos que peguem os meninos, que podem ter se tornado homens e estuprado meninas, caçado pessoas, trabalhado nos correios. Homens que, por definição, morrem. Mas aquela senhora ignorava esta premissa deveras acadêmica e fria. E andava, morta, títere movendo-se apenas pelas cordas invisíveis de um destino inexorável e imprevisível.

Se eu fosse o louco na rua, se a minha cabeça começasse a girar diferente, andava pelado por entre as gentes, vendo moinhos de vento moendo carne por preços de açougue, derretendo esperanças como se fossem pequena pastas ao nosso redor. Como se fossem apenas gordura.

Ela não se virou, a morta. caminhava rumo ao túmulo cada vez mais inadequado áquela tarde que alaranjava. Em sua marcha, me fez perceber outra verdade que motivou a escrita deste texto: Quem já morreu não pode ser novamente morto. E é por isso que ela fica aqui, onde posso lhe oferecer uma modesta cota de imortalidade. De além.
Loucos somos todos, que nos penteamos para irmos à rua, implorando por migalhas arremessadas por pessoas sempre piores que nós. Loucos somos nós que não deixamos o diferente atravessar o trilho diário de rotinas e segurança. Loucos somos nós, minha selvagem senhora morta, que tem, à sua disposição, toda a minha solidariedade. Mesmo que eu tenha fugido de você quando podia oferecê-la pessoalmente.
É a coisa boa da noite. Todo mundo está dormindo.

E assim, com as expressões desfeitas se misturando aos travesseiros, parece que ainda querem algo mais do que polir os próprios umbigos.

A sombra que É a noite anula a hipocrisia que a luz exige.

Sozinho, no escuro, mente noturna entoa o mantra que me força a levantar: ainda dá pra acreditar.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

como o diabo gosta (belquiô)

Não quero regra nem nada
Tudo tá como o diabo gosta, tá,
Já tenho este peso, que me fere as costas,
e não vou, eu mesmo, atar minha mão.

O que transforma o velho no novo
bendito fruto do povo será.
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter;
é nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobedecer.
Nunca reverenciar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

enquanto eu espero, na estação, por um trem que não seja de partida...

livrai-nos do mal, amém. (julia pessoa)

perdão pelas poucas palavras.
por pecar propositalmente.
pela porca poesia.
perdão peço, prudente.

pelos peitos partidos.
pela putidão passiva.
pelos pêlos perdidos.
pelo pleito- pocilga.

pelos parcos pensamentos.
pela pífia paciência.
pela puta preguiça.
por pedir proficiência.

pelo pobre português.
pelos porras profreridos.
por peversões premeditadas.
pelo perene perdão pedido.

tem mais aqui: Dá o lead, porra!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Tem dias que não adianta
o sol sobe e desce
e até os que não me aborrecem
atam o nó da garganta

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ecos de refrão

E essas lembranças, nossos cacos de tempo
são saudades, distâncias? Os silêncios: o som?
A alegria volátil, não se esvai com o vento?
O que se recorda é eterno, é o que fica de bom.

No vaso dos dias, cada vez mais lotados
De pequenos tesouros: esquecidos, mas guardados
Fica nosso compêndio, esqueletos doados
Mais matéria-prima pra montar novos quadros?

Sento e acalmo os meus dentes,
Me sinto bem, mesmo onde não sou chamado
Então afine o que há de bom, alivie a criança

Porque os que a gente escolhe, os novos parentes
São colagens nossas/suas, são o novo trabalho
São refrões, que no fim, são o alimento da esperança.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Carreguei a carabina e fui pro mato. As raposas estavam dentro do galinheiro. Meus ovos cozinhavam dentro da calça de couro de zebu. Eu era sozinho, nu. Eu era um cangaceiro. Eu me cansei. Não haveria mais o sinsinhô. Não haveria mais carestia e rabos de calango pra quem sofria escaldado no santo sol desse sertão. Eu sou a precisão e a ira. Eu sou só um homem com raiva e sem saída.

E entre dois eventos, há sempre a linha do tempo.


Minhas pernas são patrimônio da humanidade. Minha cabeça salgada e pendurada no poste por tantos anos é a iluminação. Minha vida clareia a vista. Sou mais azedo que xique-xique. Eu sofri, eu matei, eu fui rude sem ver no outro meu irmão. Eu serei adorado, mesmo sendo de quengas e contra polícia. Eu sou o passado morto, mas nunca enterrado.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Quando eu me levantei
Ela ainda sonhava

7 horas tem carona
9 minutos de atraso
5 gotas de adoçante
incontáveis intervalos

cheiro bom de cama
sufocado por perfume
hora de tomar café
olha lá! um vagalume

intercalando nossas ações
num filme em corte seco
vou prevendo nosso dia-a-dia
diferentes direções
Você suspira numa música
e eu escrevo poesia

2 mensagens no celular
4 lembranças e meio pão
ah, morena que saudade
das bobeiras, dos teus nãos

não queria separar-nos
só outro tipo de alvoroço
muito mais que a mesma chuva
nos molhando, no almoço.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006


Aqui

domingo, 13 de agosto de 2006

ai, essa cidade que não dorme, que não dorme...
saio e visto a brisa do setembro me soprando
que as canções de amor são todas meros versos
e o amor é sonho escasso, rebeldia dos que dormem...

brisa e vento. calmaria.
me surpreendo com os beijos, em setembro, outro dia...
desespero, solidão, nada que seja novo
meus minutos sãos são ilusão, são só espelho
as falas que eu digo: desespero, peso e brasa
tentativa e erro, pra se sentir em casa

ai, essa cidade que não dorme, que não dorme, que não dorme
luz do refletor, saia rodada e pressão baixa
olhar para a cidade na penumbra da amurada
e saber que a luta é em vão, nada se encaixa...

(e aí, serviu?)

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Com olhar estacionado
três metros acima
começo o dia como você
sob toneladas de tijolos
concreto e pratos sujos

e andar e trancar a porta
fechar o circuito do isolamento
luto e resisto a uma rima com cimento

é o dia cinza do poeta que canta
um horizonte que só imagina

sento e me esvazio: um cubo mágico prum animal no cio
tijolos concretos e papéis sujos
jaula elegante e caixa de areia

Pêlos raspados, sob a imensa platéia
de aranhas nos cantos, em teias velhas
acho que o bicho já pode passear
é importante o exercício, 'bora trabalhar

)é quarta-feira, o imperialismo tá aí. É preciso comprar sapatos. Melhor não entrar em contradição. ... Adeus judias lindas que não me deram conversa. O tempo está mesmo mudando. Duas dessas, por favor. ... meu relógio me diz que é o meio da semana. ai minha folga ... socorro(

teto: chapéu de concreto
eu: o que meu olhar não perdeu

terça-feira, 13 de junho de 2006

Como se eu fosse Paulo Leminski

Nacarando, fossilizando
o que antes foi verdade
é caverna, o que hoje eu sinto
tironossaurus saudadis

é o esqueleto da ponte
por onde nosso amor (ñ) veio
É a ponta do meu nariz
roçando o bico do teu seio

é madrugando as palavras
que sossego a alma insone
outros dias, comovido
microfone